LIRICHE E SONETTI DI VINICIUS
Garota de Ipanema
Vinicius de Moraes / Tom Jobim
Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina, que vem e que passa
Num doce balanço a caminho do mar
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que já vi passar
Ai! Como estou tão sozinho
Ai! Como tudo é tão triste
Ai! A beleza que existe
A beleza que não é só minha
E também passa sozinha
Ai! Se ela soubesse que quando ela passa
O mundo interinho se enche de graça
E fica mais lindo por causa do amor
Só por causa do amor ...
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Soneto da Fidelidade
Vinicius de Moraes
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zêlo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e darramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contetentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, pôsto que e chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
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Insensatez
Vinicius de Moraes / Tom Jobim
Ah, insensatez que você fez
Coração mais sem cuidado
Fez chorar de dor o seu amor
Um amor tão delicado
Ah, por que você foi tão fraco assim
Assim tão desalmado
Ah, meu coração, quem nunca amou
Não merece ser amado
Vai, meu coração, ouve a razão
Usa só sinceridade
Quem semeia vento, diz a razão
Colhe sempre tempestade
Vai, meu coração, pede perdão
Perdão apaixonado
Vai, porque quem não pede perdão
Não e nunca perdoado
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Soneto da Lua
Vinicius de Moraes
Por que tens, por que tens olhos escuros
E mãos languidas, loucas, e sem fim
Quem és, quem és tu, não eu, e estás em mim
Impúro, como o bem que está nos puros ?
Que paixão fez-te os lábios tão maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tão boa para o ruím
E tão fatal para os meus versos duros?
Fugáz, com que direito tens-me pressa
A alma, que por ti soluça nua
E não és Tatiana e nem Teresa:
E és tão pouco a mulher que anda na rua
Vagabunda, patética e indefesa
Ó minha branca e pequenina lua !
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Tarde Em Itapuã
Vinicius de Moraes / Toquinho
Um velho calão de banho
O dia pra vadiar
Um mar que não tem tamanho
E um arco-iris no ar
Depois na praia Caymmi
Sentir preguiça no corpo
E uma esteira de vime
Beber uma água de côco
É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã
Enquanto o mar inaugura
Um verde novinho em folha
Argumentar com doura
Com uma cacha de rolha
E com olhar esquecido
No encontro de céu e mar
Bem devagar ir sentindo
A terra toda a rodar
É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã
Depois sentir o arrepio
Do vento que a noite traz
É o diz-que-diz-que macio
Que brota dos coqueirais
E nos espaços serenos
Sem ontem nem amanhã
Dormir nos braços morenos
Da lua de Itapuã
É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã
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Soneto da Separação
Vinicius de Moraes
De repente do riso fez-se o pranto
Silêncioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
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Minha Namorada
Vinicius de Moraes / Carlos Lyra
Se você quer ser minha namorada
Ah, que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exatamente essa coisinha
Essa coisa toda minha
Que nínguem mais pode ser
Você tem que me fazer um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarinho
Essas historias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem níguem saber por quê
Porém, se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a quela a vida e nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo em meu caminho
E talvez o meu caminho seja triste para você
O seus olhos tem que ser só dos meus olhos
Os seu braços o meu ninho
No silêncio de depois
e você tem que ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nos dois
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Soneto a Quatro Mãos
Vinicius de Moraes / Paulo Mendes Campos
Tudo de amor que existe em mim foi dado
Tudo que fala em mim de amor foi dito
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.
Tão prodígo de amor fiquei coitado
Tão facil para amar fiquei proscrito
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.
Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.
Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.
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Samba da Benção
Vinicius de Moraes / Baden Powell
É melhor ser alegre que ser triste
Algeria e a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Se não, não se faz um samba não.
Fazer samba não e contar piada
E quem faz samba assim não e de nada
O bom samba e uma forma de oração
Porque o samba e a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
Tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não.
Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que nínguem no mundo vence
A beleza que tem num samba não
Porque o samba nasceu lá na Baía
E se hoje ele e branço na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
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Soneto do Orfeu
Vinicius de Moraes
São demais os perigos dessa vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida
E se ao luar, que atua desvairado
Vem unir-se uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher
Uma mulher que é feita de música
Luar e sentimento, e que a vida
Não quer, de tão perfeita
Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento,
Tão cheia de pudor que vive nua.
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Samba Em Prelúdio
Vinicius de Moraes / Baden Powell
Eu sem você
Não tenho porquê
Porque sem você
Não sei nem chorar
Sou chama sem luz
Jardim sem luar
Luar sem amor
Amor sem se dar
Em sem você
Sou so desamor
Um barco sem mar
Um campo sem flor
Tristeza que vai
Tristeza que vem
Sem você, meu amor, eu não sou nínguem
Ah, que saudade
Que vontade de ver renasser nossa vida
Volta, querida
Os meus braços precisam dos teus
Teus braços precisam dos meus
Estou tão sozinho
Tenho os olhos cansados de olhar para o além
Vem ver a vida
Sem você, meu amor, eu não sou nínguem
Sem você meu amor, eu não sou nínguem
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Soneto do Maior Amor
Vinicius de Moraes
Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada
E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal aventurada.
Louco amor meu que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo
Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo |
Rancho das Namoradas
Vinicius de Moraes / Ary Barroso
Já vem raiando a madrugada
Acorda, que lindo!
Mesmo a tristeza está sorrindo
Entre as flores da manhã
Se abrindo nas cores do céu
O véu das nuvens que esvoaam
Que passam pela estrela a morrer
Parecem nos dizer
Que não existe beleza maior
Do que o amanhecer
E no entanto maior
Bem maior que a do céu
Bem maior que a do mar
Maior que toda a natureza
É a Beleza que tem a mulher namorada
Seu corpo é assim como a auróra ardente
Sua alma e uma estrela inocente
Seu corpo e uma rosa fechada
Em seu seio, os pudores
Renscem das dores de antigos amores
Que vieram, mas não eram o amor que se espera
O amor primavera
São tantos seus encantos
Que para os comparar
Nem mesmo a beleza que tem
As auroras do mar
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Valsinha
Vinicius de Moraes / Chico Buarque
Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito sempre falar
E nem deixou-a a só num canto, para seu grande espanto convidou-a
pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido docotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praia e comearam a se
abraçar
E lai danaram tanta dana que a vizinhana toda despertou
E foi tanta felícidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que todo mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz
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Poema de Natal
Vinicius de Moraes
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados,
Para chorar e fazer chorar,
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses,
Mãos para colher o que foi dado,
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida;
Uma tarde sempre a esquecer,
Uma estrêla a se apagar na treva,
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar,
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sôbre um berço,
Um verso, talvez, de amor,
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E que por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre,
Para a participação da poesia,
Para ver a face da morte -
De repente, nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte apenas
Nascemos, imensamente.
<<<<<<VINICIUS
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